COLETIVE DANÇAS EM TRANSIÇÕES (FRA) (SP) (RJ) (PA) (MG) (MS) (PI) (AL)
E MAR ANHA DO
E MAR ANHA DO guia travessias e ritualiza memórias de 11 pessoas trans, não-bináries e bixas, corrompendo o cotidiano, aterrando universos e vislumbrando ebós de cura, desabafos, provocações, reflexões, afetos, angústias, revoltas e imaginações de futuros. Exploramos a forma como essas configurações afetam nossas maneiras de nos movermos no mundo e na cena, com foco na experimentação de ferramentas de transições de danças e de autonarrativas poéticas. As práticas compartilhadas durante a criação lidaram com alterações de estados corporais como ignições para pesquisa de movimento, tendo como ponto de partida o espectro das invisibilidades, dos desejos, da coletivização das narrativas individuais, de mergulho e imersão em si e no outro. Exploramos movimentos individuais-coletivos que tangem nossas questões de transformação de gênero e suas intersecções com masculinidades dissidentes, aspectos étnico-raciais e territoriais, dentre outros. Também navegamos por desenhos, caligrafias, cartografias de ações “domestic-specific”, improvisações de som e movimento a partir de textos teóricos, explorações sobre presença, apresentação e decomposição de matérias orgânicas, poesias, estudos sobre drags & monstres, escritas automáticas e rituais para trovoadas, chuva, fogo e transição-do-mundo.
Construído por meio de uma quimera virtual, E MAR ANHA DO arregaça a crise de paradigmas não só ambientais e econômicos, como a do próprio ser: não somos bináries, fixes ou úniques no universo, somos teias complexas em perpétuo movimento em mundos bioculturalmente diversos e em metamorfose. Além de potencializar a criação de novas ferramentas artísticas, esta quimera virtual teve um importante papel enquanto criação de rede de interlocução única entre artistas de diferentes contextos e localidades brasileires que muitas vezes encontram-se isolades e criando solitariamente, uma realidade comum para artistas gênero dissidentes que não só antecede a pandemia atual como é por ela agravada.
E MAR ANHA DO nasceu de uma residência virtual proposta pelo Centro Cultural São Paulo em fevereiro de 2021 e tem a participação de artistas residentes em seis estados brasileiros que nunca se encontraram fora da virtualidade – escrevemos de Parnaíba, Teresina, Corumbá, Maceió, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São José do Rio Pardo e São Paulo. Ê Coletive tem mediação e provocação de Pol Pi, coreógrafo trans brasileiro baseado em Toulouse, na França. A teia dramatúrgica do filme foi tecida através da captação de encontros virtuais e da produção individual de materiais audio-visuais entre fevereiro e agosto de 2021. Não se trata de um espetáculo de dança ou de um documentário, mas de um filme cujo formato nasceu de nossos desejos de compartilhamento de práticas criativas e de vida. Nesse processo, lançamo-nos no desafio de questionar a linguagem audiovisual através de nossos olhares desconstrutivos, encontrando uma maneira nossa, transitória como nossas danças e existências, de filmarmos e sermos filmades. O compartilhamento de práticas e processos foi assim encarado enquanto obra, pois o que nos interessa e nos move é justamente este espaço transitório de reinvenção que questiona os próprios formatos aos quais estamos acostumades enquanto “resultados” validados no contexto da dança contemporânea e da performance.
Nós nunca nos tocamos. Mas sabemos que estamos na casa uns dos outros. Nós queríamos muito nascer. Vamos começar. Você entra pela porta da cozinha pra mostrar a grama que se deita lá fora com uma misteriosa velocidade. Sabemos que há cheiro de trovoada no ar. Nós ainda não podemos nos tocar. Há toalhas dançando presas em varais como se sorrindo respirassem. Um quintal com um ciclo repleto de cadeiras descansa habitado pelo invisível. E aí, quando de repente você sai do jardim e aponta a câmera para o céu… um pássaro atravessa o espaço. Nós sabemos que há muitas canções sem começo nem fim. Fechamos os olhos e inventamos outro lugar. Alguém sai do silêncio. É só uma voz. Eu gosto dos seus cabelos. Cada um escolhe uma folha ou abre uma gaveta. Reconhecemos emaranhados de possibilidades. Eles não nos reconhecem. Nós não nos reconhecemos. Abissais abismos do outro. Mas o microfone não liga. Você ainda está aí? Ela indaga a legitimidade da felicidade. Ele fica de cabeça pra baixo. Elu espanca algumas cartas. É viagem sideral. De sua coluna escorreu uma gota. Nós comeríamos a terra. Nós somos o outro. Nós somos você.
26 set| 19h
Assista aqui | Watch here (em breve | soon)
FICHA TÉCNICA
Criação, performance e captação de imagens Adda Risoppe, Alan Athayde, Brisas Project, Fabi Ferro, Ernesto Filho, Fernanda Silva, Ian Habib, Kaetê Okano, Patfudyda, Pol Pi, Reginaldo Oliveira
Mediação e provocação Pol Pi
Dramaturgia Brisas Project, Fabi Ferro, Ernesto Filho & Pol Pi
Edição Ernesto Filho
Trilha-sonora Adda Risoppe, Alan Athayde, Brisas Project, Ernesto Filho, Kaetê Okano & Pol Pi
Cor Vicente Otávio
Design digital Brisas Project
Fotografia da capa Kaetê Okano
Legendagem (português) Letícia Cherobim
Mídias sociais Brisas Project, Fabi Ferro & Kaetê Okano
Assessoria de Imprensa Ian Habib
Apoio Museu Transgênero de História e Arte (@muthabrasil)
Produção Danças em Transições (@dancasemtransicoes)
Direção de produção Pol Pi
Produção executiva Fabi Ferro & Ian Habib
Coprodutores do Danças em Transições Ballet National de Marseille, Latitudes Contemporaines e La Briqueterie (@balletnationaldemarseille @latitudescontemporaines @labriqueteriecdcn)